sábado, 14 de agosto de 2010

Mar nas Vistas

Lá longe a meio do rio um velho cargueiro contrariava a força do rio que o empurrava em sentido contrário. Lá longe o rio puxava por ele. De âncora presa ao fundo do leito pantanoso cobria com o seu flanco as velas alvas de embarcação que passeava os sonhos suspirantes por vento naquele dia de reflexos de Sol na água. Unidos naquele instante no desejo de seguir viagem juntos, separados pelas medidas que os distinguiam. Ele pesaroso e rangente, hesitante, consumido pela força de servir gente. Ela leve e flamejante, cativante na forma como guiava o sonho atrás de si. O rio puxava em sentido contrário, lembrando que é na foz que segue o destino. Havia vozes dissonantes pela cidade, e os ecos dos cães silenciavam os gritos dos gatos e as vozes das obras eram as vozes dos homens que suspiravam ao sol por ventos frescos na encosta das vizinhas da frente. Rio acima rio abaixo. A voz do cargueiro não se fazia ouvir. Os sinos tocavam. Ele esperava que o tempo o tocasse mas ele dava voltas ao contrário. Encalhado a meio do rio. Quando o mar imenso não cabe nos olhos do marinheiro a viagem acaba e o sonhos começam. E esse mar é tão vasto e sem retorno. Há que seguir viagem. Lá longe é aqui tão perto.

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